sábado, 1 de agosto de 2009

SIMPLES PRIMAVERAS

Nós apenas conseguimos voltar ao passado revendo nossas memórias. E escrever sobre a minha infância (sem que eu me desse conta disso no início), não sentindo um certo saudosismo foi inevitável.
Era uma época em que o tempo parecia caminhar num compasso de tic-tacs mais lentos, e as primaveras de meu olhar eram mais floridas e perfumadas.
A família era numerosa: meus pais, Mário e Antonia, e mais seis irmãos. Eu era a caçula dessa genética ítalo -hispano -germânica.
Vivíamos em um bairro muito pouco povoado na época. As ruas eram desprovidas de asfalto e não possuíam mais que cinco ou seis casas.Havia uma grande área de mata verdejante no final da rua com um lago cheio de peixinhos. 
Era lá, que eu e um dos meus irmãos íamos às vezes para caçar passarinhos (sinceramente não me agradava quando o pobrezinho caia na arapuca...).Ele não gostava muito que eu fosse junto com ele, já que era quase impossível me manter em silêncio por muito tempo. Sendo assim, o inevitável acontecia: ele não pegava nenhum pássaro na sua arapuca! Mas,ao mesmo tempo em que ele ficava muito bravo ao final da “caçada”, eu me sentia muito feliz! Já explico. Primeiro, eu não via o bichinho preso com aquele ar de estranheza e tristeza; segundo, o que mais gostava era de estar perto de meu querido irmão. 
Morávamos em uma casa pequena e muito modesta, para se ter uma idéia, o seu piso era de terra batida.No quintal não existiam muros, e sim cercas feitas com caules de pequenas árvores e cobertas por ramos de maracujá silvestre. (que delicia!) que meu pai buscava nos arredores do bairro nos seus dias de descanso, quando não estava à frente do enorme forno da empresa de laminação na qual trabalhou por muitos anos, e que foi diretamente, responsável pelo agravamento de seu problema pulmonar.
No fundo do quintal havia bananeiras (que eram muito apreciadas por abelhas, e estas pelo meu pescoço!), uma pequena horta com alface, almeirão e tomates. Tínhamos também galinhas, uma era especial, não me recordo o seu nome, mas possuía uma característica única. Única mesmo. Era perneta! Viveu muito tempo devido à promessa feita por minha mãe a São Lázaro. Ela não seria comida no almoço de domingo! Sua morte seria por causas naturais. Por falar em animais, como não falar da Palmeira? Ela era uma égua branca enorme, de olhos meigos e amendoados. Quando teve sua primeira cria, um lindo potro, meu pai deu-o de presente a meu irmão Zé. Parecia ensinado! Bastava meu irmão assoviar que ele vinha de onde estivesse galopando. Sem contar dos gatos, cachorros vira-latas abandonados que sempre eram trazidos por meu irmão Maninha que se apiedava de todos, e que através de muita persuasão convencia minha mãe a ficar apenas com mais aquele coitadinho que seria o último, assim o prometia.E claro, nunca cumpria (acho que minha mãe tinha uma péssima memória em relação a promessas...).
Ah! Se eu sequer imaginasse as mudanças que aconteceriam após alguns anos... Teria parado os tic-tacs do tempo ali, naquela primavera...

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